O programa de Manutenção Autônoma se estabelece em sete etapas, sendo a limpeza inicial a primeira, a qual abordaremos neste artigo. Por que a limpeza? Simplesmente porque ela reduz ou elimina a deterioração forçada, estabelecendo e mantendo as condições básicas dos equipamentos. Sendo assim, o objetivo dessa etapa da manutenção autônoma é de tornar os operadores autônomos e não apenas o que chamamos de operadores de liga e desliga ou operador de botões.
1 – Primeira Etapa – Limpeza Inicial
O principal objetivo da primeira etapa da manutenção autônoma é o de praticar a limpeza com a finalidade de inspeção na busca por estabelecer as condições básicas do equipamento, ou seja, trazê-lo para seu estado ideal. Traduzindo, é tornar o ambiente de trabalho livre de anomalias, falhas, paradas e defeitos de qualidade nos equipamentos e nos processos. Esta é uma tarefa muito árdua, pois há um grande enraizamento da mentalidade “Eu operador faço e a manutenção correta” e transformar esta cultura dá muito trabalho, havendo a necessidade do comprometimento de todos dentro da empresa para modificar este comportamento. A seguir as principais atividades relacionados com os objetivos desta etapa da manutenção autônoma:

Figura 1 – Etapa 1 da Manutenção Autônoma: Limpeza Inicial
Atividade | Objetivos com os Equipamentos – Manutenção Autônoma |
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Tabela 1 – Atividades e objetivos da etapa de Limpeza Inicial – Manutenção Autônoma. Fonte: Adaptado de (SUZUKI, 1994).
A limpeza pode acontecer de formas variadas, citando alguns tipos:
- Superficial: limpeza feita de maneira incorreta, equivocada e sem compromisso onde são utilizados poucos utensílios de limpeza. Em alguns casos há até o uso do ar comprimido, o que em vez de limpar, espalha a sujeira deixando outros locais com mais poeira ou sujeiras nas frestas e orifícios do equipamento. Este tipo de limpeza não evita as pequenas falhas nem proporciona a manutenção das condições básicas dos equipamentos;
- De aparência: limpeza realizada apenas nas partes externas dos equipamentos com o objetivo de apresentar uma aparência de limpa. Esta limpeza ainda não evita as falhas e as anomalias e apenas dá uma noção das fontes que geram a sujeira, como vazamentos por exemplo. Outra característica deste tipo de limpeza é que são tomadas medidas paliativas, tais como recipientes de coleta para tratar vazamentos, que posteriormente, deverão ser eliminados com a extinção dos mesmos. Os utensílios de limpeza empregados ficam mais próximos do que seria necessário e podemos dizer que nessa fase, o operador tem um contato mais próximo do equipamento, facilitando o aprendizado dos pontos de maior concentração de sujeira;
- Detalhada: é nesta limpeza que o operador passa a conhecer melhor seu equipamento, pois juntamente com o uso dos utensílios de limpeza e ferramentas adequadas, há a desmontagem de componentes e proteções para se chegar as partes internas dos equipamentos. Com este processo é possível a verificação dos desgastes, folgas, desapertos, vazamentos que geram sujeira, rachaduras, trincas e deformações. E a partir destas identificações devem ser tomadas ações de reparo, bem como medidas que bloqueiam o ressurgimento das mesmas.
Pode-se perceber que além da limpeza, o operador também deve realizar inspeções no seu próprio equipamento. Vou falar da inspeção no nosso próximo artigo.
2 – Os problemas prejudiciais ocasionados pela falta de limpeza
A falta de limpeza provoca a deterioração forçada e a ocorrência de problemas decorrentes do efeito multiplicador das falhas ínfimas acumuladas, como sujeira, trepidação, desgaste, folga, deformação, vazamentos, rachaduras e trincas que ficam escondidos nos equipamentos, moldes, ferramentas, gabaritos e todos os acessórios. A seguir os principais efeitos devidos a falta de limpeza:
Tipo | Descrição |
Falha | Sujeira e corpos estranhos adentram as partes rotativas e móveis. Observa-se falhas em sistemas pneumáticos e hidráulicos, sistemas de controle elétrico, sensores, componentes eletroeletrônicos, entre outros. Estas falhas ocasionam perda de precisão ou mau funcionamento com efeitos de desgaste, obstruções, resistência a atrito, falhas elétricas e desgaste acelerado em geral. No caso de um curto circuito, um acidente mais grave poderá ocorrer possibilitando uma descarga elétrica no operador, ou ainda, provocar incêndios; |
Defeitos de Qualidade | Defeitos de qualidade são causados por contaminação direta do produto com corpos estranhos ou contaminação indireta causada pelo resultado de mau funcionamento do equipamento devida a anomalias originárias pela falta de limpeza no equipamento. |
Deterioração forçada | A poeira acumulada torna difícil a identificação de rachaduras, trincas, folga excessiva, lubrificação insuficiente e outras desordens, resultando na deterioração forçada. |
Perdas Com Rapidez | A poeira e a sujeira aumentam o desgaste e a resistência por atrito, causando perdas de velocidade e consequentemente perda de tempo e falta de desempenho. |
Tabela 2 – Efeitos prejudiciais da falta de limpeza – Manutenção Autônoma. Fonte: Adaptado de (SUZUKI, 1994).
Todos estes problemas só agravam a deterioração forçada ou acelerada causando outros grandes problemas, dentre eles o aumento dos custos de manutenção, a diminuição da produtividade e em consequência a baixa competitividade.
A importância da limpeza e seus principais conceitos na manutenção autônoma são:
- Fazer limpeza não é deixar apenas a aparência bonita dos equipamentos;
- Fazer limpeza significa remover toda a poeira, sujeira, fuligem, óleo, graxa, e outras contaminações que se depositam e aderem por todos os equipamentos e seus acessórios. Com esta remoção os defeitos escondidos são expostos e é muito melhor do que uma limpeza de estética;
- Fazer limpeza significa se aproximar do equipamento, visualizar e detectar suas anomalias e anormalidades, falhas ínfimas relacionados a vibrações, vazamentos, ruídos, trincas e etc.
- Fazer limpeza é inspecionar e seguir os passos da manutenção autônoma.
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3 – Pontos chave para esta etapa da Manutenção Autônoma
A limpeza, assim como a inspeção compõem os princípios da manutenção autônoma e é uma forma de mudar toda a realidade da empresa, pois passará a expor os defeitos escondidos ou anomalias nas condições do equipamento. Com as correções das anomalias, os equipamentos se tornarão mais confiáveis. Os pontos chave na manutenção autônoma para a limpeza são:
- Limpar o equipamento regularmente como parte do trabalho diário dos operadores;
- Limpar profundamente, remover todas as camadas de sujeira, fuligem e incrustação acumuladas através dos anos;
- Abrir tampas e proteções ignoradas anteriormente, para expor, identificar e remover todos resíduos de sujeira por todas as partes do equipamento;
- Limpar todos os acessórios assim como as unidades principais;
- Não desistir quando uma parte sujar novamente logo após a limpeza. Deve-se anotar cuidadosamente informações de quanto tempo demora para a parte ficar contaminada novamente, qual a origem da contaminação e quão severa ela é.
Em análise a todas as colocações expostas aqui, o grande fator de sucesso desta etapa da manutenção autônoma é fazer com que os operadores se aproximem e se familiarizem mais com seu equipamento, e assim passem a desenvolver um senso de propriedade e preocupação, passando a estimular uma curiosidade maior sobre o mesmo. Este processo possibilita que as pessoas reconheçam pequenos defeitos e outras irregularidades e assim antecipem os grandes problemas.
Outro ponto importante é o papel dos gestores perante esta primeira etapa da manutenção autônoma, pois há grande necessidade de apoio aos operadores, sendo necessário haver um processo de orientação, treinamento e capacitação por parte dos gestores aos operadores para explicar os significados das condições ótimas, mostrar as partes mais importantes de serem mantidas limpas e a importância das condições ideias do equipamento (limpeza, lubrificação e apertos). Na manutenção autônoma, não há como delegar esta tarefa, sobe o risco de não haver aderência por parte dos operadores. É fundamental ilustrar de maneira prática o significado de “inspeção através da limpeza” e os benefícios da manutenção autônoma.
Referências: SUZUKI, T. TPM in Process Industries. 1ª. ed. New York: Productivity Press, 1994.